Dez anos decorridos sobre a perda do fundador da Philos, Sílvio Oliveira, recordamos um dos seus autores e poemas favoritos.
Ao longo do ano, traremos aqui alguns outros momentos, como forma especial de agradecimento à pessoa muito especial que ele foi também e que nunca esqueceremos!
“Robalo grande
Vamos então pescar o robalo grande
Um pouco mais ao sul
Essa última utopia.
Afinal o poder não está
Na ponta da caneta ou da espingarda
– está sobretudo no outro lado. No outro lado.
Vamos então pescar o robalo que não há.
A vida nem com balas nem baladas.
Resta que nós somos da viagem
Procurámos outro espaço e outra forma
Outro escrever outro fazer
Na outra página do século.
Ficou talvez um rasto mais do que a ruína
Algumas imagens cintilantes
O olhar um pouco triste e sábio
Um sustenido eco
Ou talvez um rumor de camaradas
Nos campos de batalha.
Resta meu velho que não nos integrámos.
Algures podemos fumar ainda
O cigarro da fraternidade.
Ou talvez dizer com Mallarmé
Azul azul azul.
E procurar o robalo grande.
Um pouco mais ao sul. Um pouco mais ao sul.”
Manuel Alegre