A Insustentável Leveza do Sonho Europeu

“Os agelastas, o não-pensamento das ideias feitas, o kitsch, é o único e mesmo inimigo tricéfalo da arte nascida como eco do riso de Deus e que soube criar esse fascinante espaço imaginário onde ninguém é possuidor da verdade e onde cada um tem o direito de ser compreendido. Este espaço imaginário nasceu com a Europa Moderna, é a imagem da Europa ou, pelo menos, o nosso sonho da Europa, sonho tantas vezes traído mas, contudo, suficientemente forte para nos unir a todos na fraternidade que ultrapassa de longe o nosso pequeno continente. Mas nós sabemos que o mundo em que o indivíduo é respeitado (o mundo imaginário do romance, e o mundo real da Europa) é frágil e perecível. Veem-se, no horizonte, exércitos de agelastas que nos vigiam.”

São palavras do brilhante discurso “O Romance e a Europa” que Milan Kundera – um dos mais fascinantes e lúcidos autores do nosso tempo – proferiu por ocasião do recebimento do Prémio Jerusalém, no ano de 1985 do século passado. Palavras que soam, hoje, assustadoramente premonitórias.